ATA DA DÉCIMA NONA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 17.08.1999.

 


Aos dezessete dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e quarenta e dois minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear os quarenta anos da Revolução Cubana, nos termos do Requerimento nº 166/99 (Processo nº 2375/99), de autoria do Vereador Renato Guimarães. Compuseram a MESA: o Vereador Juarez Pinheiro, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, na presidência dos trabalhos; a Senhora Evangelina de Azevedo Veiga, Presidenta da Associação Cultural José Martí; o Senhor Igor Moreira, representante da Procuradoria Geral do Estado; o Major Hildebrando Sanfelice, representante do Comando Geral da Brigada Militar; o Senhor João Paulo Machado, representante da Polícia Civil; o Senhor Hans Baumann, representante da Secretaria Estadual da Cultura; o Senhor Vilson Guimarães, representante da Secretaria Municipal da Cultura; o Vereador Renato Guimarães, na ocasião, Secretário "ad hoc". Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução dos Hinos Nacionais Cubano e Brasileiro e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Renato Guimarães, em nome das Bancadas do PMDB e PSB, prestou sua homenagem aos quarenta anos da Revolução Cubana, ressaltando a luta empreendida pelo povo cubano em busca de melhores condições de vida e criticando as sanções políticas e econômicas impostas pelos Estados Unidos da América em relação à Cuba. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondências alusivas à presente solenidade, enviadas pelos Senhores Tarcísio Zimmermann, Secretário do Trabalho, Cidadania e Assistência Social do Estado, e Alex Tapia, Chefe de Gabinete do Senhor Vice-Governador do Estado. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPB, saudou a passagem dos quarenta anos da Revolução Cubana, analisando as circunstâncias sob as quais este fato histórico ocorreu e referindo-se à atuação dos principais personagens envolvidos nesse episódio. Também, defendeu a implantação de medidas políticas que viabilizem a realização de eleições em Cuba. O Vereador José Valdir, em nome da Bancada do PT, salientou a importância da Revolução Cubana para a história política das Américas, destacando ter sido essa Revolução um movimento enraizado na vontade popular, visando estabelecer uma sociedade mais justa e igualitária. Ainda, procedeu à leitura de poema de sua autoria, intitulado “Cuba, Flor Teimosa”. A seguir, procedeu-se à execução de música intitulada “Cuba Oh Linda És Cuba”. O Vereador Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PPS e do PSDB, homenageou o transcurso do quadragésimo aniversário da Revolução Cubana, ressaltando as modificações estruturais promovidas por este evento junto à sociedade de Cuba e analisando o conceito de democracia sob as óticas socialista e ocidental. Na ocasião, procedeu-se à execução de música intitulada “Aurora”, e o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor Raul Quevedo, representante da Associação Riograndense de Imprensa – ARI. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Evangelina de Azevedo Veiga, que agradeceu a homenagem prestada por este Legislativo aos quarenta anos da Revolução Cubana. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução da Internacional Socialista e do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e quarenta e quatro minutos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Juarez Pinheiro e secretariados pelo Vereador Renato Guimarães, como secretário “ad hoc”. Do que eu, Renato Guimarães, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Juarez Pinheiro): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear os 40 anos da Revolução Cubana.

Convidamos, para compor a Mesa, a Presidenta da Associação Cultural José Martí, Evangelina de Azevedo Veiga; o Dr. Igor Moreira, representante da Procuradoria-Geral do Estado; Major Hildelbrando Sanfelice, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; Sr. João Paulo Machado, representante da Polícia Civil; Sr. Hans Baumann, representante da Secretaria Estadual da Cultura; Sr. Vilson Guimarães, representante da Secretaria Municipal da Cultura.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Cubano e, logo após, o Hino Nacional Brasileiro.

 

(Executam-se os Hinos Cubano e Brasileiro.)

 

Queremos, em nome da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, dizer que nos sentimos imensamente honrados em homenagear a Revolução Cubana e não podíamos deixar de citar no mínimo três expoentes desse movimento revolucionário que ficarão marcados na história: Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Fidel Castro. O Ver. Renato Guimarães, proponente da homenagem, está com a palavra, falando também em nome das Bancadas do PMDB e PSB.

 

O SR. RENATO GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É importante, em primeiro lugar, registrarmos a dificuldade que tivemos com esta Sessão Solene em relação ao tempo e à agenda. Com certeza, se houvesse a possibilidade de realizar esta Sessão em outro horário, contaríamos com muito mais defensores dessa Revolução da Sociedade Cubana, mas, por dificuldades, tivemos que agendar para esta terça-feira, às 15 horas.

Nós, juntamente com a Associação José Martí, promovemos esta homenagem aos 40 Anos da Revolução Cubana, pretendendo, assim, ressaltar o valor, para os povos em luta no mundo inteiro, do movimento que levou o povo cubano à vitória em 1959, e tirou a Ilha do poder do Tio Sam, representado por Fulgêncio Batista, que transformou Cuba, como todos sabemos, em um grande cassino, em um grande motel dos interesses norte-americanos.

 É importante lembrar, também, a luta pela construção de uma sociedade sem miséria, sem fome, solidária e socialista, onde o fruto do trabalho sirva a todos , e não a poucos, onde não se banalize a existência de crianças alimentando-se em lixões, virando latas de lixo a procura de alimentos. Que a luta por essa sociedade seja fundamental.

Para aqueles que visitam Cuba, vale a pena lembrar o que diz em um cartaz: “No mundo, hoje, há trezentos milhões de crianças na rua”. Em Cuba há uma grande luta para dar condições às famílias no sentido de não verem seus filhos mendigando e dormindo em calçadas. Essa é a luta contra esse modelo, esse modo capitalista, que estamos travando há muito tempo no Brasil. São quinhentos anos, sim, mas quinhentos anos de resistência neste País: resistência do povo indígena, que foi massacrado, dizimado; resistência do povo negro; resistência das comunidades populares. Essa é a luta, é a referência que fazemos em homenagem ao povo cubano, à Revolução Cubana, lembrando que o nosso povo tem essa história. É interessante citarmos aqui Quilombo dos Palmares, Contestado, Canudos e Cabanagem como exemplos de resistência a esse modelo de exploração, que a gente diz que é para poucos terem tudo e muitos morrerem de fome.

Outros povos também já se rebelaram contra o massacre que o capitalismo imperialista vem realizando cotidianamente, por exemplo, a luta dos zapatistas, no México, e a que está sendo realizada na Colômbia.

É interessante usarmos esses exemplos para desmistificarmos o que novamente o Tio Sam tenta fazer, ou seja, intervir na América Latina, através da luta contra as drogas. Todos nós devemos lutar contra as drogas, mas é interessante dizer que hoje 60% do consumo de drogas do mundo ocorre lá, nos Estados Unidos. Então, é interessante fazermos um debate sobre que sociedade é aquela que consome 60% da droga do mundo. E é importante afirmarmos isso.

Mas, sem sombra de dúvida, é importante afirmarmos, dona Evangelina, a figura altiva da Ilha no Caribe, nossa gigantesca Cuba, que tem o território menor do que o território de alguns estados brasileiros, menor do que o território de Portugal, mas que continua, de forma altiva, a demonstrar para todo o mundo a importante conquista daquele povo sofrido, humilhado e explorado. É exemplo para todos nós de resistência contra o projeto neoliberal, que contamina os povos e coloca os governos de joelhos, como é o exemplo do Governo Fernando Henrique Cardoso, que está de joelhos, para não dizer mais, em relação ao imperialismo norte-americano e chega ao ponto de deixar funcionar um escritório dentro da sede do Governo Brasileiro em Brasília, escritório do Fundo Monetário Internacional, que dita as normas, que diz o momento de fazer a gasolina aumentar de preço, que diz quanto tem que cortar do investimento em saúde, do investimento em educação. E isto nós temos que dizer: Cuba está lá, nas barbas desse poderio que intervém na Iugoslávia, que mata Salvador Allende, que derrota o povo nicaragüense, financiando os contras para aniquilar com o país e fazer com que a revolução nicaragüense venha a ser derrotada.

Mas é interessante dizer que, com todas essas intervenções que os Estados Unidos vêm fazendo no mundo, mostrando que é o “xerife”, está lá, nas suas barbas, Cuba, resistindo, dizendo que não é assim, que com autonomia e soberania vai resolver os seus problemas, vai discutir o seu conceito de democracia, vai construir um modelo de saúde, um modelo de educação e que não precisa da intervenção do Fundo Monetário Internacional dizendo quanto gastar com saúde, com educação, quantas crianças devem morrer de fome, por hora, no Brasil, e quantas não devem morrer de fome. Cuba não aceita esse sistema de intervenção, não aceita essa ingerência sobre seu estado, e isso temos que saudar. Não podemo-nos esquecer de que, independente do conjunto de mudanças que ocorreram no Leste Europeu, a Ilha vem, há oito anos, se superando, fazendo um debate com a comunidade internacional, dizendo que o bloqueio econômico é criminoso, porque além de fazer a intervenção direta para que Cuba não relacione com os outros países, faz a intervenção, faz o bloqueio dos outros países. Por exemplo, o Brasil, há alguns anos, foi proibido, e ainda hoje em algumas situações continua sendo, de manter relações de ajuda, de câmbio econômico. Além de o bloqueio ser criminoso contra o Estado Cubano, também é criminoso porque faz com que todos os países da comunidade internacional fiquem de joelhos para os Estados Unidos.

Já dizia um embaixador brasileiro que se não obedecermos aos Estados Unidos, vai haver sanções econômicas.

Hoje, Cuba começa a construir uma relação internacional, superando o grande cerco do bloqueio econômico, e alguns países, como a França, começam a questionar se o bloqueio é dos Estados Unidos sobre Cuba ou se é, na realidade, um cerco dos Estados Unidos sobre o mundo. O mundo, hoje, está questionando qual é o papel de fato desse bloqueio, se é uma intervenção direta sobre Cuba ou sobre todos nós? A independência de Cuba, enquanto nação, só foi possível graças à luta, à garra, à resistência do seu povo, que vem lutando, vem-se afirmando contra a expansão norte-americana. Eles que tentem botar a mão sobre o Estado Cubano, sobre o território cubano!

Em uma palestra que ouvi na minha adolescência, questionei um estudante cubano a respeito da vida em Cuba, que o Presidente mandava e ninguém questionava. Ele respondeu: “Na minha casa, meu irmão, meu pai e eu temos um fuzil guardado. A população de Cuba é armada para defender o seu Estado. No dia em que estivermos descontentes com o nosso governo, nós saberemos como tirá-lo, porque já tiramos um que fazia muito mal ao nosso povo.”

Portanto, eu digo: respeitemos a soberania de Cuba. Que o povo de Cuba decida sobre seu futuro, sobre seu modelo de democracia, de saúde; mas, saibamos dizer que é importante o exemplo de autonomia e de liberdade que Cuba nos mostra, porque, como dizia um companheiro: “É preferível morrer de pé lutando do que viver ajoelhado.” Nós não podemos fazer uma nação, do tamanho da brasileira, viver ajoelhada perante esse sanguinário modelo capitalista e imperialista. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Comunicamos o recebimento de correspondência do Secretário do Trabalho, Cidadania e Assistência Social do Estado do Rio Grande do Sul, Sr. Tarcísio Zimmermann, que informa estar impossibilitado de comparecer, agradece o convite e cumprimenta a iniciativa do Ver. Renato Guimarães.

Da mesma forma, recebemos comunicação do Chefe de Gabinete do Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Alex Tapia, que comunica a impossibilidade de o Vice-Governador Sr.Miguel Rossetto comparecer e cumprimenta a iniciativa do Ver. Renato Guimarães e a todos os Vereadores.

Homenagear a Revolução Cubana é lembrar de José Martí, é lembrar do ataque a Moncada, é lembrar do Movimento 26 de Julho.

O Ver. João Dib, Líder da Bancada do PPB, está com a palavra.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É justo que neste momento se rememore um fato importante na vida das Américas: há quarenta anos um grupo de idealistas se revoltava e tomava o poder em Cuba. Cuba, naquela oportunidade, vivia uma ditadura má, uma ditadura que precisava ser trocada; lá estava o Sargento Fulgêncio Batista que se autodenominou coronel e maltratava o povo cubano.

É importante que hoje saudemos aquele momento, mas são passados quarenta anos. Queremos, depois de quarenta anos, saber de Raul Castro, de Camilo Cienfuegos, de Che Guevara, queremos a história certa, completa, correta. Queremos viver um momento de coerência quando, diariamente, nesta tribuna, ouvimos reclamações tranqüilas contra o Governo Federal, contra o Governo Estadual e contra o Governo Municipal, e tudo segue tranqüilo. Queremos a coerência daqueles que foram às ruas - e não foi depois de 40 anos - pedir Diretas Já! Nós queremos essa coerência! Nós queremos a coerência daqueles que gritaram “Anistia Geral e Irrestrita”! Nós queremos a coerência daqueles que pediram e obtiveram uma Sessão Solene da Prefeitura para que um monumento de ferro fosse colocado aqui porque a Revolução Brasileira matou - segundo eles - menos de quinhentas pessoas. Eu quero saber, na historia de Cuba, sobre os quarenta mil mortos no paredón. E quero que essas pessoas - absolutamente coerentes e corretas - digam por que Fidel Castro não atendeu ao pedido do Papa para que os presos políticos fossem liberados.

É possível, então, que eu sinta que aqueles meus companheiros de Câmara, que aqueles homens e mulheres desta Cidade, que lutaram pelas Diretas Já, que se esforçaram quando o Presidente Geisel anunciou a distensão e aplaudiram quando Figueiredo deu a abertura política; eu quero que essa mesma força, essa mesma juventude, esses mesmos homens e essas mesmas mulheres apelem - eu pensei que hoje haveria autoridades cubanas, como me foi dito pelo meu querido Ver. Renato Guimarães -, para que Cuba tenha eleições. Que se possa fazer em Cuba o que se faz no Brasil, quando esses mesmos moços que pediram Diretas Já e Anistia Geral e Irrestrita estão hoje fazendo uma lista para tirar o Presidente da República. Eu quero que em Cuba se possa fazer um plebiscito e que se possa pedir: “vamos tirar o presidente que há 40 anos aí está.” Eu nem estou julgando e nem analisando a situação, ou como ele governa. Eu não estou preocupado com isso. Eu só quero que esses moços, que não aceitavam continuidade, se mantenham da mesma forma para que eu continue acreditando que nem tudo está perdido e que os homens sinceros, que as mulheres sinceras estão aí. Saúde e paz! Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. José Valdir está com a palavra; falará pela Bancada do PT.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quando se homenageia a Revolução de Cuba, temos, em primeiro lugar, que salientar a importância desse processo revolucionário para toda a América Latina e para todos os povos oprimidos.

Não dá, de maneira nenhuma, para compararmos o processo revolucionário de Cuba, que foi um processo enraizado no meio popular, um processo que teve participação popular - senão não teria sido vitorioso contra aquele ditador sanguinário, violento, com apoio americano, que foi Fulgêncio Batista - com o golpe militar de 1964. Não dá! Esse golpe de 1964 foi uma reação ao avanço da luta popular, foi uma reação, justamente, para que o imperialismo continuasse a oprimir o Brasil. E, em Cuba, foi o inverso; foi uma revolução popular, exatamente para romper com o imperialismo e estabelecer um outro tipo de sociedade que combatesse a exclusão social, que era violenta em Cuba.

E vejam: durante 40 anos, Cuba - que coisa mais fantástica! - conseguiu resistir à maior potência imperialista, ao maior boicote jamais visto sobre um país, com uma economia que não dá para comparar com a do Brasil, extremamente frágil e, no entanto, ensinou ao mundo como se faz saúde pública, como se faz educação e como se erradica o analfabetismo. Tanto isso é verdade, que os resultados se verificam até no esporte, nos índices obtidos por Cuba.

Eu faço essa pequena introdução, porque, na verdade, vim aqui hoje para fazer uma homenagem diferente a Cuba e ler um poema que fiz e já apresentei de outra feita, quando fizemos uma homenagem ao dia 26 de julho, com a presença da Associação Cultural José Martí, que se chama “Cuba, flor teimosa”. Esse poema já foi readaptado e, quando o fiz, Nicarágua e El Salvador constavam dos jardins das nossas esperanças. Então, esse poema chama-se “Cuba Flor Teimosa”, e cada vez ela é mais teimosa e importante para nós, militantes pela transformação social. Diz assim:

“Cuba é a última flor / do jardim das nossas esperanças... / Um jardim feito de sangue, suor e teimosia.

Na América Latina, homens, mulheres, / negros, operários e camponeses / semeiam esperanças, há quase quinhentos anos.

E lutam contra os imperialistas: Espanha, Portugal, / Inglaterra e o sucessor de todos / instalado no próprio continente.

Quilombos, guerrilhas, lutas libertárias afofam a terra, / mas as plantas são destruídas ao insinuar-se a primavera, / para que não possam florir e dar frutos.

Cuba é a flor teimosa, a esperança histórica / que o Imperialismo não conseguiu ceifar!

Imperialismo que mata a alma das nações, / destrói, comercializa e deturpa a sua cultura,  / desfigurando os povos.

Imperialismo que, no Terceiro Mundo, / suga as suas riquezas, exaure a terra, polui as mentes / corrompendo os homens.

Imperialismo cínico que rouba os povos, reproduz a miséria / e, depois, chora no velório da infância morta, / distribuindo migalhas em forma de “ajuda” ao desenvolvimento.

Imperialismo violento que mata, saqueia / e invade, não respeitando fronteiras, / inobstante falar em Paz e Direito Internacional.

Imperialismo intolerante que não suporta a Liberdade / como prática viva, preferindo idolatrá-la / na estátua inerte do frio concreto.

Cuba é a flor teimosa, a esperança viva / que o Imperialismo não conseguiu matar!

E o Imperialismo a ataca de todas as formas: / planeja sistematicamente o assassinato dos seus líderes, / sitia, isola e calunia Cuba.

Acusa-a de tolher a liberdade dos seus, / mas omite o fato de que Cuba os libertou da escravidão, / da fome, do analfabetismo e da doença.

O Imperialismo, para quem a miséria, a fome e a doença / são um mal necessário oriundo da condição humana, / não tem moral para criticar Cuba.

Nós, os revolucionários e comunistas, sim / porque acreditamos no homem construtor do seu destino, / queremos aperfeiçoar Cuba, avançar a história.

O Imperialismo quer destruir Cuba, ceifar a flor, / porque, enquanto ela existir, a utopia de milhões / se manterá viva como a certeza do reflorir da primavera.

E a primavera virá: Nicarágua, El Salvador, América Latina, Ásia e África / Uma explosão de flores cobrirá a terra de beleza. / E serão tantas que o nosso jardim será invencível.

Até lá, temos que regar cuidadosamente a planta / e amparar carinhosamente a nossa flor teimosa, / apoiando Cuba. VIVA CUBA! (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ouviremos, neste momento, a canção: “Cuba Oh Linda És Cuba”.

 

(Ouve-se a canção.)

 

Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, que fala pelo PPS e PSDB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, senhoras e senhores, o século que está a findar produziu uma série de movimentos armados, inclusive, duas guerras mundiais, afora guerras setoriais, de recente memória. E produziu, também, dois movimentos revolucionários que vieram na esteira da Revolução Francesa, que significaram a modificação estrutural das sociedades onde eles se verificaram. Refiro-me à Revolução Russa de 1917 e mais recentemente, aqui perto de nós, na nossa América, a Revolução Cubana, cujo 40º aniversário estamos a comemorar.

Foram movimentos significativos, de profundo revolvimento da sociedade onde se desenvolveram. Não se tratavam, apenas, de movimentos armados que visassem à conquista do governo, do poder, foram movimentos armados que modificaram a estrutura social, econômica e política dos países onde se verificaram.

A Revolução Cubana, por estar mais perto de nós, nos merece uma consideração maior, uma afeição maior, porque Cuba é um País latino-americano, é um país pequeno, tem similitudes culturais e econômicas com o Brasil; é um povo afeito às tradições brasileiras. A composição étnica de Cuba é muito parecida com a brasileira; houve uma influência muito grande dos negros na cultura cubana assim como houve na cultura brasileira.

Para nós o exemplo de Cuba é significativo, porque enfrentou, quase como nas figuras bíblicas de Golias e Davi, uma situação mundial diferente, e está pagando por essa ousadia.

Nós estamos assistindo contristados a um crime de lesa-humanidade contra a pequenina Cuba, porque os detentores do poder mundial, depois da queda do muro de Berlim, da ruição do Leste Europeu, os Estados Unidos ficaram como gendarmes do mundo, e hoje exercem contra Cuba, como contra outros países, inclusive o Brasil, o seu poder de polícia, e não se mede nenhuma conseqüência disso. Procura-se manter o status quo mundial a qualquer custo.

Cuba resiste, não se sabe por quanto tempo, até porque o mundo vai mudando e nem os cubanos seriam antimarxistas como eles proclamam que são, e o são verdadeiramente, porque uma das lições de Marx é esta: que temos que aprender a nos modificar com as situações que se apresentam diversamente a cada dia que passa. Acredito que Cuba, tendo aprendido a lição do velho Marx, também vai adaptar-se a essas modificações. Precisa fazer isso! Vai fazer, porque tem essa cultura.

Muito se fala e nesta Sessão já se falou na democracia. A democracia socialista é diferente da democracia que nós herdamos da Revolução Francesa. Muitos que não entenderam, porque não passaram pelo Partido Comunista, não têm facilidade de entender o estamento da democracia socialista, em que graus ela se exercita; em que parâmetros é colocada a democracia socialista. Ela é tão válida para o mundo socialista quanto a democracia ocidental é para nós. Não é fácil de entender isso. Não há eleição direta como aqui, os organismos que compõem o estamento da democracia socialista são democráticos em si mesmos. É lá nas instâncias que se sobrepõem uma às outras até chegar à Presidência da Republica, até o comando supremo, lá não é Presidente, é Secretário-Geral, até a nomenclatura é diferente. Então, é muito difícil de ser entendida por nós e é por isso que se reclama tanto.

Nós, que passamos pelo Partido Comunista, sabemos que a democracia em Cuba se exercita de outra forma e é tão válida quanto a nossa, ou até mais, porque nós temos uma democracia social. Falta muito para chegarmos à democracia econômica, e lá já existe.

Eu quero felicitar os componentes da Mesa, a Sra. Evangelina; saudar a Revolução Cubana como um exemplo muito significativo, um referencial no mundo do que pode um povo determinado. E, sobretudo, o máximo respeito pela determinação do povo cubano. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Saudar a Revolução Cubana é também lembrar Hélio Dutra, que é o único brasileiro membro do Partido Comunista Cubano.

Ouviremos a música “Aurora”.

 

(Ouve-se a música.)

 

Queremos registrar a presença de várias lideranças sindicais, dirigentes partidários, militantes sociais e do representante da ARI, Sr. Raul Quevedo. Concedemos a palavra, neste momento, à Sra. Evangelina de Azevedo Veiga, Presidenta da Associação Cultural José Martí.

 

A SRA. EVANGELINA DE AZEVEDO VEIGA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A dignidade de um povo vale mais do que a força de um império, é o exemplo que nos oferece o povo cubano, após a vitória de sua Revolução, em 1959. Desde então, Cuba enfrenta um genocida e irresponsável bloqueio econômico e político por parte dos Estados Unidos. Cerceada, caluniada, agredida, Cuba, no entanto, tem forças para enfrentar o imperialismo ianque e brindar, com o seu apoio moral e material, os povos nas suas lutas de libertação. Apesar das gigantescas pressões, Cuba resiste, e não somente resiste, como, apesar de todas as dificuldades, trilha o caminho do socialismo. É um povo que, com todas as dificuldades, mantém firme os seus ideais e desfruta, em diversos aspectos, de um padrão de vida comparável ao do Primeiro Mundo e destaca-se internacionalmente em diversas áreas como esporte, saúde, educação e pesquisas científicas, merecendo, no mínimo, respeito e admiração.

No entanto, para o capitalismo, que vive da exploração, injustiças e desigualdades, tais méritos representam um perigo inaceitável que deve ser eliminado. Uma das formas utilizadas para isso é responsabilizar Cuba por transgressão dos direitos humanos, o que foi contrariamente constatado, em abril de 1998, pela Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, reunidas na Suíça. Essa Comissão rompeu com sete anos de condenação ao Governo Socialista Cubano e rechaçou, em uma votação, uma Resolução dos Estados Unidos contra a violação de liberdades fundamentais em Cuba. Portanto, essa falta de liberdade não existe, ao contrário, a história julgará os Estados Unidos por crime de lesa-humanidade praticado contra o povo cubano e contra os demais povos do mundo que ousam desafiá-los ou contrariar os seus interesses. A Nação que se autoproclama supremo juiz dos direitos humanos, em nível mundial, é a mesma que atirou bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, a que invadiu Cuba na praia Giron, a que levou a guerra ao Vietnã, ocasionando a morte de quatro milhões de vietnamitas. É a mesma que invadiu San Domingos, Granada, Panamá, Somália, Nicarágua e El Salvador; é a mesma que provocou a guerra suja na América Central; a que apoiou as ditaduras mais sangrentas da nossa América e treinou em torturas, nas escolas da CIA, os seus sanguinários chefes. Recentemente, a Nação que visa a julgar o mundo foi autora de infames e injustificáveis bombardeios na Iugoslávia e ameaça interferir diretamente na Colômbia, transgredindo, mais uma vez, o direito à autodeterminação dos povos. Se o mundo se tornasse um tribunal, os Estados Unidos teriam que ficar durante vários séculos no banco dos réus.

Não obstante, ao avaliar Cuba e sua Revolução, não podemos esquecer que, para os Estados Unidos, Cuba não é um país qualquer, Cuba é alvo permanente de hostilidades por parte da mais poderosa nação do mundo pelo fato de não ter-se vergado a seus interesses, tornando-se mais uma estrela da bandeira norte-americana.

Reconhecidas pelo Governo dos Estados Unidos, existem organizações terroristas em seu território que operam contra Cuba e que mantêm boas relações com o Governo, que delas se beneficiam. Exemplo concreto disso foram as explosões nos hotéis de Havana, com um saldo de um turista morto e vários feridos. Com o bloqueio, guerras psicológicas, bombas, sedição e propaganda anti-revolucionária, tendo a mídia a seu dispor, os Estados Unidos apostam, por qualquer via, na destruição do regime cubano. O imperialismo ianque não perdoa Cuba por ser uma nação independente que fala com sua própria voz e que não se deixa intimidar nem transgredir seus princípios.

As conquistas sociais, principalmente nas áreas da saúde e educação, com a erradicação do analfabetismo e da miséria, são incontestáveis e prioritárias no Governo Cubano que, mesmo em condições adversas, após a queda da União Soviética e do Leste Europeu, com quem Cuba mantinha relações comerciais que a beneficiavam, nenhuma escola foi fechada, assim como nenhum hospital e nenhuma casa para velhos.

Cuba resiste e continua buscando seu próprio caminho com o propósito de manter uma sociedade socialista onde não exista exploração, onde os valores de justiça social e solidariedade sejam uma realidade, onde nenhum criança durma na rua onde seja obrigada a trabalhar para sobreviver ou forçada à prostituição.

A Associação Cultural José Martí, nos quarenta anos da Revolução Cubana, é solidária, mais uma vez e sempre, com o seu povo, porque somos solidários com a saúde, a educação, a socialização dos bens de produção, assim como temos a certeza de que uma nova sociedade pode surgir a partir da resistência, organização e luta dos trabalhadores. Somos solidários com um povo que nos dá seu exemplo em sua resistência e em sua certeza de que o socialismo não sucumbiu e nem sucumbirá frente à nefasta investida neoliberal. Defendemos sua autodeterminação e sua soberania. Cuba é o exemplo e a confirmação de que a história não chegou ao seu fim. Cuba segue escrevendo sua história, rumo à construção do socialismo solidário para toda a humanidade. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos a Internacional Socialista e, após, o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se a Internacional Socialista e o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h44min.)

 

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